terça-feira, 10 de julho de 2007

A revolta veio com o Tango


Sinto-me como uma dançarina de tango. Em um cabaré que um dia ja foi famoso, mas agora apenas bêbados freqüentam. As lindas mulheres criaram olheiras, os filhos pequenos já choram em seus berços. Apenas os cigarros consomem a dor, e a fumaça se esvai no tempo. São sempre as mesmas lembranças.

O moço alto, jovem e bonito que um dia atravessara aquela porta, volta agora cambaleando, tropeçando no meio-fio. Não mais sorri com dentes fortes, seu sorriso amarelou-se com o tempo. Com suas mágoas, suas dores e seus erros. Todo mundo aqui sofre, mas alguns ainda preferem dividir sua dor comigo.

Como se meu colo fosse um altar, meu útero o cofrinho de fazer milagres, e cada um deles depositam a cada noite, um pouco de suas esperanças. E eu ainda ouço a voz de minha querida mãe a falar, “filha amada, não te deixas envolver por teus amigos. Pois seu coração é como flecha, voa longe e nunca se sabe qual será seu paradeiro. Por mais que tu mires, há de errar teu alvo. Há de marcar a vida de alguém que tu não queres. Há de se ferir com teu próprio jogo, e tomar de seu próprio veneno. Amigos são leais apenas depois que morremos, mas não queira morrer por eles”.

E como música, ouço o choro do futuro, enrolado numa manta verde, ele pede ajuda. Pede para que o alimente com alegria, amor, e confiança. Pois os sorrisos são falsos, as esperanças nos enganam. E tudo o que temos é nosso passado, e é dele que nunca devemos fugir, dele nunca devemos esquecer. Para não vivê-lo outra vez, para não cair de novo, e não vacilar.

Mais um gole de vinho, mais uma noite termina, mais um bêbado dorme por cima da mesa. E mais uma vez, subirei as escadas da vida sozinha, como uma dançarina velha, perdida no tempo. Apenas vinte e quatro anos, mas estes não são bons tempos.


º° Bibian °º