segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Mea Culpa


A única certeza de que tenho, é que sou exatamente o que não deveria, não poderia e não queria ser. Mas sou, e isso sufoca minha existência. Devido aos fatos, aos traços, aos laços e tudo mais que me leve ao passado, eu compreendo que esta, não mais sou eu.

O que era antes agora já não sou mais. E é tudo minha culpa. Por desistir dos sonhos, por esperar pelos outros. Por pensar que a vida se resumia a uma dose de uísque e um cigarro no meio da noite. Agora pago mais do que posso, e penduro minhas dívidas nas contas que fiz no o céu. Ou no inferno, quem sabe?!

Talvez se eu pudesse descrever a dor, ou a sensação angustiante a qual me encontro, estaria fugindo e, deixando a responsabilidade de mudança para outro. Exatamente como fiz outrora. Mudei minha vida para uma pessoa em que não me reconheço. Morri, e não fui avisada. Na verdade, suicidei-me.

Purgatório para almas que perambulam. Mas eu só precisava de uma pílula vermelha, e tudo iria mudar. As pessoas em quem confiei, as músicas que escrevi e todos os desabafos em meus diários cheirando a mofo, que apodrecem no fundo do armário. Ali eu me escondo. Mas exatamente por saber, evito-me.

Como voltar a ser quem eu era, se fujo de mim mesma? Por que reclamar do presente, quando também não recorro ao que passou? Encontro-me como em um labirinto de sentimentos. Cheia de dúvidas e certezas. Embora não saiba distingui-los. Apenas sinto, e isso me basta.

Viver tornou-se uma aventura perigosa, onde corro entre esgotos e florestas. Meu suor vale menos que minhas lágrimas, e parece que todos os meus atos são como um jogo marcado. Onde não conheço as regras que aquele ‘eu’ anterior criou. Claro, disso eu também já me esqueci.

Não posso pedir socorro, meu herói morreu antes mesmo de saber de minha existência. Morreu de desgosto, deitado na lama, como porco depois que se refestela numa lavagem. E por mais que tudo esteja absurdamente lógico e sistemático, não conseguirei jamais expressar a verdade.

Penso que o real é tudo aquilo que eu desejo inventar. Então não existe mentira. Tudo o que relato é verdade. Só não tenho, e nem quero provar nada. Não preciso provar nada. Pois a verdade é minha, assim como a dor e toda minha lógica confusão. Sendo assim, não minto nunca, pois toda minha mentira nada mais é, do que a essência da verdade. É aquilo que eu desejo que seja, e será.

Da forma em que te mostro os fatos, crê. E absorves tudo com ânsia de quem tem as artérias entupidas. Limpe os ouvidos, a voz que me fala, grita aos ventos que estou voltando. Basta saber se como sou, ou como era. Mas serei, de fato, eu.


º° Bibian °º