quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Existe um Lugar


Existe um lugar em que a democracia é falha.

Em que crianças não brincam em condomínios fechados.

Existe um lugar no qual o esgoto ainda corre em céu aberto, os jovens não vão à escola, e os doentes não são igualmente respeitados.

Existe um sistema que desumaniza nossos irmãos de raça.

Que desrespeita as mínimas condições aceitáveis de vida digna.

Existem pessoas que tiram da dor o motivo pra sorrir.

Que convivem com anos de segregação.

Que não conseguem falar, pois não tem voz.

Que não conseguem agir, pois as pernas já estão fracas.

Existem pessoas que não podem reclamar suas insatisfações

Que são tratadas como pequenas marionetes em épocas de eleição

Que não tem respeitados os seus direitos de ser humano.

Que são absurdamente espancados, mutilados e assassinados.

Que são desrespeitados, humilhados e mal pagos.

Existem roncos de fome que são ignorados.

Existem pedidos de ajuda que são negados.

Existem hospitais que assistem a mortes nos corredores.

Existe a fome nesse lugar.

Existe a frustração, o ódio, o rancor...

Existem muitos funerais, muitos abraços e muitas lágrimas.

Muitos velórios, muitos pêsames, e muitos desabrigados.

Existem pessoas que choram por não entender o que fizeram.

Para desmerecer as oportunidades que eles vêem que alguns têm.

Existem pessoas que sofrem com a falta de sentimentos.

Que desconhecem o que é amar, gostar, sorrir.

Que convivem todos os dias com a morte os olhando.

Existem pessoas que não recebem abraços, olhares, atenção.

Que estão acostumadas a um governo hostil...

Se você desconhece esse lugar,

Seja bem vindo, esse é sim o seu Brasil.


Rafael Loiola

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Arsênico Letal


Eu, ser plenamente vencido
Pela sociedade abastada e avarenta,
Vivo pelos becos escondido,

Não mais tendo a proteção da placenta.

Sou um corpo emurchecido
E uma massa encefálica degenerada.
Aquele serve ao espírito como abrigo

E esse à alma por morada.

A sorte - um felino finado; E os vícios...
A incontrolável delinqüência,
Deixam na epiderme indícios

Que desmentem a minha falsa aparência.


Um lutulento lupanar é o caminho
Percorrido pelo meu cadáver convulso.

Como um estranho pássaro no ninho
Constantemente me auto-expulso.


Potencialíssimo esquizofrênico:
Quero das turbas me afastar;

Propenso a ingerir arsênico:

Posso isolado, lentamente finar.


-|- Leo Rosário -|-


De todo carinho, respeito e admiração, meu muitíssimo obrigado.
Bibian.

domingo, 23 de setembro de 2007

Inspira-ação


No momento em que a inspiração foge, é preciso respirar fundo. Tão fundo a ponto de sentir o pesar dos dias. Por mais que a cada hora, cada segundo a mais, só aumente a aflição.

Então não há o que fazer a não ser esperar. Esperar a água ferver enquanto você decide entre café ou chá. Esperar o fósforo queimar até o fim, antes de acender o ultimo incenso, e o primeiro cigarro. Esperar pela morte do amor, sentenciada pelo outro, a quem você menos espera. E de quem você mais precisa.

Pensar num tema é algo paradoxal. Pode-se falar de dor, da vida, de amor e de alegria. Mas sempre se escolhe falar das alegrias que a vida trás depois das dores de amor. Torna-se um alienígena dentro dos seus próprios conflitos.

Afinal, não seriam conflitos se fossem fáceis, seus temores. Mas ainda assim, é preciso insistir na mentira de um final feliz. Porque do homem nada resta se lhes retirassem todos os sonhos. Inclusive os seus piores pesadelos.


º° Bibian °º