segunda-feira, 2 de julho de 2007

A Paixão e seus segredos


O veneno é letal como bala de tiro. O ciúme mata, fere, e cansa. Todo amor se cansa. A paixão queima, e o amor cansa. Cansa tanto que um dia acaba. Seco e só, assim como começou... Sozinho.

No dia em que ela percebeu seu amor, notou também que não se amava mais. E bebia e fumava. Fumava e bebia como bicho acuado, como quem precisava morrer. E morreria por ele, se assim fosse preciso. “A paixão é um inferno, o amor é o Satanás!” gritava ela aos quatro ventos, pedindo a Deus para que lhe redimisse de seus pecados.

Enquanto ela o amava, ele pensava na sua vida como peça de teatro. Ele era o mamulengo, ela a feiticeira. Haveria de saber quem comandava o picadeiro, teria de pedir-lhes ajuda. Era louco por ela. E ela era louca por ele.

Tentou morrer queimada, tentou cortar os pulsos. Mas a cigana velha, com seus cabelos negros, pele seca e dedos largos, lhe afagou o rosto. Sentenciou seu mal, e disse que tudo seria diferente. Ela precisava ser forte, pois a paixão já havia cessado. Ele voltaria de onde viera. Não houve desespero. O amor era tamanho que ela se conformou.

Trovões e raios cortaram a escuridão e o silêncio da noite anterior. Tambores de negros no terreiro ao lado, arrepiavam-lhe a alma. As vozes em coro. Atabaques, batuques, gritos e fogos. O dia não clareava, e a solidão lhe era perversa. Onde ele estaria, se não nos braços de sua amada?

E foi nessa hora de cólera, que sua voz ecoou por toda sala. Esvaiu-se de lágrimas, e deixou seu corpo cair ao léu. Sentiu-se voando, sorriu. O gosto do amor era amargo como sangue. E então pensou que tudo não passara de um sonho.

Acenderam-se as luzes, o público levantou-se. Era mesmo o fim.

Baseado no filme O Vestido , de Paulo Thiago.




º° Bibian °º

Um comentário:

Michel Fonseca disse...

"No dia em que ela percebeu seu amor, notou também que não se amava mais."