
Outro gole de alegria descia-me a goela, e queimava minhas lágrimas. Uma boa música tocava ao fundo, mas eu não conseguia me focar no som. Via a tristeza longe, muito longe, e agora eu só queria saber daquele momento de liberdade há muito não experimentado. Já não sentia a fome do meu próximo. Já não sentia o frio vácuo em que estava instalado o meu peito. Já não sentia o desapontamento pelos planos incendiados. Um cigarro proibido é aceso. A fumaça me entorpece, e o riso agora é fácil. O gosto ruim da cachaça já não é lembrado, pois aquele cigarro de gosto forte a cobria. O amargo das lágrimas engolidas também é esquecido por hora. Apenas esse riso bom, desses que a gente demora muito pra poder largar, que não vem de forma natural. Esse riso é tão falso quanto essa realidade em que me vejo. O riso toma o lugar da lágrima que deveria estar caindo neste exato momento, mas, com uma teimosia tamanha, não se deixa cair. Outra dose que acompanha mais um cigarro. A essa altura eu já não sinto meu corpo. “Está quase na hora”, penso. Hora de que? De voltar para casa e constatar que a realidade voltou. De deitar no travesseiro e esperar que meus pensamentos me libertem. De sentar e esperar o tempo passar, num passe de mágica e me devolver meu coração sadio.
Mais uma dose vem, mas eu já não sinto mais a vontade de virá-la. Tenho vontade de ir para casa e chorar muito, pois me vem a certeza de que estou me enganando. De que estou me utilizando de fúteis válvulas de escape, que me devolvem toda a minha tristeza assim que se vão com seus efeitos. A contragosto, ainda engulo a dose ardente. As piadas já não fazem mais sentido. Os risos já não vem com freqüência. Estou perdido em minha própria mente, buscando respostas complexas para problemas simples. A vontade de ir embora ainda vinga, mas a coragem para fazê-lo é suprida pela coragem de enfrentar meus problemas. Vou para casa com a mesma tristeza, apenas um pouco tonto, mas com a companhia da mesma solidão que me acompanha esses dias. E me entristeço, pois consigo constatar que hoje eu supri todos os meus vícios, mas nenhum de meus sentimentos.
Agora deito na cama, milhões de pensamentos rodam junto com minha cabeça, e eu ainda tenho tempo pra pensar se é esta mesmo a resposta certa. Mas qual era a resposta?
Ah, complexa demais, não tenho cabeça pra pensar isso agora – é meu ultimo pensamento até que o sono me tome.
Um comentário:
o mais legal nesse texto de Rafa, eh o inicio! HAHAAHA
brincadeira, ta lindo, como sempre =D
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